#14 O azul de que tudo depende e o futuro ancestral
As reflexões de um evento sobre a economia azul e uma dose de "aleatoriedades" para seguirmos pensando sobre o futuro que queremos viver
“Sem azul, não há verde. Sem água, não há vida. A economia azul é a fonte dos nossos alimentos, da energia, da vida.”
Luis Pietro, fundador do MadBlue
Na semana passada, fui até Madrid para cobrir o MadBlue Summit, um evento que promoveu debates sobre a economia azul (que fomenta o desenvolvimento econômico por meio da preservação dos ecossistemas marinhos e da sustentabilidade ambiental) e reuniu quase 60 startups de impacto socioambiental e suas soluções e inovações para os principais desafios de desenvolvimento sustentável do presente e do futuro.
Foi um evento cheio de sincronicidades daquelas que fazem a gente pensar que nada é por acaso…
Nesta edição da Farol da Economia Regenerativa*, conecto alguns desses pontos e destaco iniciativas (e pessoas) interessantes que conheci por lá.
Além disso, apresento a TEIA A Economia B (uma solução que desenvolvemos com o objetivo de ser o apoio de comunicação e marketing de conteúdo para organizações que querem liderar debates sobre os temas mais importantes da nossa era).
Por fim, como sempre, trago aleatoriedades (não tão aleatórias assim) pra você seguir pensando sobre o que conversamos aqui – e, quem sabe, levar essas conversas para outros ambientes. 🙂
Boa leitura!
Natasha Schiebel
Diretora de Conteúdo A Economia B
PS: Se quiser fazer algum comentário, dar uma sugestão de pauta ou só trocar uma ideia, fique à vontade para me escrever – natasha@aeconomiab.com
*Farol da Economia Regenerativa é a newsletter semanal d’A Economia B.
A Declaração Oceânica Māori e os três princípios básicos para proteger a natureza e combater as mudanças climáticas
A programação de painéis do MadBlue Summit estava bem interessante. Os especialistas e ativistas que subiram ao palco da Escola de Arquitetos em que o evento foi realizado falaram sobre temas como:
O que é capital natural marinho e por que é importante investir nele;
Recursos genéticos marinhos;
Blue superfoods (alimentos de origem marinha que estão ganhando cada vez mais atenção globalmente);
Energia marinha.
Ao longo do dia, fiz muitas anotações sobre conceitos e dados que inicialmente planejava transformar em uma análise aprofundada sobre como olhamos para os recursos naturais marinhos. Mas aos 45 minutos do segundo tempo, o meu planejamento de cobertura mudou completamente.
Na sessão de encerramento do primeiro dia de evento, Luis Pietro (fundador do MadBlue) convidou a plateia a fazer perguntas, e veio dali o grande momento do dia para mim.
Com o microfone em mãos, um participante contou que tinha lido um artigo escrito por um professor da Universidade de Harvard em que ele dizia que o grande desafio para avançarmos não apenas na proteção dos oceanos, mas também na contenção da crise climática, é político.
Com base nisso, ele perguntou a Carlos Duarte – importante biólogo marinho e professor espanhol – se havia alguma iniciativa política que efetivamente já estivesse fazendo a diferença.
O professor Duarte contou que se inspira e que deposita sua esperança em iniciativas como a dos povos indígenas do Pacífico, que no fim de março assinaram a He Whakaputanga Moana, também conhecida como Declaração Oceânica Māori.
O tratado reconhece as baleias como “pessoas jurídicas” com direitos coletivos – incluindo o direito à liberdade de movimento, um ambiente saudável e a capacidade de prosperar ao lado da humanidade – e, assim, amplia sua proteção (e, consequentemente, a proteção dos oceanos).
“Depois de décadas de disputa, os povos indígenas Māori recuperaram seus direitos sobre a terra e o mar e irão administrá-los para curá-los em um projeto baseado em três princípios dos quais deveríamos aprender: nós somos parte da natureza, tudo está conectado e para receber, é preciso dar”, disse Carlos Duarte.
“A conexão entre o oceano e a terra flui através dos rios, eles sabem disso. Por outro lado, em nosso mundo tudo está compartimentado: oceanos, atmosfera, terra, florestas, agricultura... dividimos tudo em pequenas parcelas que depois não conseguimos encaixar nem estabelecer conexões”, lamentou.
O recado que fica é simples, mas poderoso: a gente pode desenvolver tecnologias de ponta e pensar em soluções inovadoras, mas o segredo, mesmo, é olharmos atentamente à natureza e aos que a respeitam. É o futuro ancestral.
Farol Recomenda
[Livro] Futuro ancestral
Eu não sabia que ouviria Carlos Duarte falando sobre a Declaração Oceânica Māori quando escolhi ler Futuro ancestral – que reúne textos de Ailton Krenak (primeiro homem indígena a se tornar ‘imortal’ pela Academia Brasileira de Letras) – durante a viagem de trem que me levou de Valência a Madrid na manhã da última quarta-feira.
Enquanto ele falava, eu me lembrava das palavras que havia lido poucas horas antes:
“Os rios, esses seres que sempre habitaram os mundos em diferentes formas, são quem me sugerem que, se há futuro a ser cogitado, esse futuro é ancestral, porque já estava aqui.”
Por mais que seja possível ler Futuro ancestral em poucas horas, esse é daqueles livros que seguem com a gente por muito tempo…
Pensamentos que iluminam e ecoam
“A forma como vivemos não é sustentável. Precisamos reconstruir tudo o que destruímos para só então voltarmos a falar em sustentabilidade.”
Carlos Duarte, professor e biólogo marinho espanhol, no MadBlue Summit 2024
→ Ouvi a ativista ambiental Fê Cortez falar algo muito parecido há quase quatro anos, durante a primeira Cúpula Global do Clima organizada pelo B Lab e seus parceiros globais. Quatro anos de pouca evolução. Neste artigo, falamos sobre o olhar do clima a partir da regeneração. Vale a leitura.
→ Além disso, na visão de Marcel Fukayama (empreendedor de impacto e head of global policy do B Lab), “desenvolvimento sustentável não cabe na mesma frase no mundo em que a gente vive hoje. Aquilo que a gente entende que é desenvolvido, é insustentável pela sua própria natureza. Se o mundo inteiro for como a Europa e os Estados Unidos, não tem planeta que aguente”. Entenda:
TEIA A Economia B
Faz quase 30 dias que lançamos o Estudo B #6: Tendências ESG para 2024 e além.
A repercussão tem sido bastante positiva. Foram mais de 400 downloads em apenas três semanas, além de diversas mensagens de pessoas interessadas em conhecer melhor nosso trabalho.
Tivemos trocas muito boas com organizações que nos procuraram. Ouvimos, por exemplo, relatos sobre dificuldades em absorver e compartilhar conhecimento sobre ESG – internamente ou até nas redes sociais.
Naturalmente, acabamos falando muito sobre marketing e comunicação, e entendemos que podemos apoiar organizações interessadas em liderar conversas ESG.
Como resultado dessas trocas, criamos a TEIA, uma solução de comunicação e marketing de conteúdo que entrega uma série de benefícios em conteúdo a um custo bastante acessível.
O que você acha de a sua organização ter uma newsletter criada e editada por A Economia B?
Esse é um dos benefícios que entregaremos aos membros da TEIA A Economia B.
Aprendi e compartilho
Na última edição da revista espanhola igluu, conheci a expressão “sombra climática”:
“Para medir nosso impacto ambiental, o mais comum é recorrer à pegada de carbono, que tenta contabilizar as emissões geradas em nossas ações cotidianas. A escritora Emma Pattee cunhou o termo ‘sombra climática’, que vai além: ele engloba questões muito difíceis de se calcular, mas que têm um grande impacto ambiental – por exemplo, seu voto, a empresa em que trabalha ou o número de filhos que tem.”
Farol Recomenda
[Podcast] NNA #129 – Entrevista com Sônia Bridi, jornalista e escritora
A importância do voto nos debates climáticos é um dos assuntos abordados neste episódio do podcast Nem Negacionismo Nem Apocalipse.
A convidada do programa é a jornalista Sônia Bridi, que cobre pautas relacionadas ao clima e ao meio ambiente desde 1992 (quando aconteceu a conferência climática que ficou conhecida como Rio 92).
Sônia fala sobre como os debates sobre o clima mudaram desde então, analisa os desafios para combater as consequências das emergência climática e lembra que o clima precisa permear todas as editorias da cobertura jornalística, não é mais apenas uma pauta ambiental.
Você sabia que…
… 60 empresas multinacionais são responsáveis por mais da metade da poluição plástica global, com seis delas contribuindo com um quarto desse total?
“Não se preocupe, é só poluição”
Durante o Web Summit Lisboa 2023, Rosalie Mann (fundadora e CEO da No More Plastic) contou como decidiu se engajar na pauta de combate à poluição plástica e deixou um recado para as próximas gerações.
João Guilherme Brotto, cofundador d’A Economia B, registrou o forte depoimento que ela deu em uma entrevista coletiva:
Empresas que são forças para o bem
Por falar em poluição plástica, no MadBlue conheci uma empresa que nasceu com o objetivo de combater um problema específico dentro desse universo: a Awa Sunglasses, que desenvolve óculos de sol que não afundam. Assim, dá para ir tranquilamente com eles para o mar e não correr o risco de contribuir para as terríveis estatísticas de plásticos nos oceanos.
Confesso que inicialmente pensei “será que precisamos mesmo desse produto?”, mas concluí que já vale pela reflexão sobre como coisas ‘bobas’ – como entrar no mar de óculos – podem impactar a saúde do planeta. O que você acha?
Neste post, falei sobre outras quatro startups que conheci no MadBlue Summit. Tem iniciativas muito bacanas lá, não deixe de ver. Ah, e adianto que estamos preparando um material especial dessa cobertura em que vamos reunir todas as soluções e inovações apresentadas em Madrid. Pode deixar que eu aviso aqui quando estiver no ar.
A Economia B por aí
Leitura e sustentabilidade: uma combinação perfeita
A campanha “Circule um Livro” tem como objetivo incentivar a leitura, promover o acesso a livros em lugares públicos, espalhar conhecimento sobre a origem sustentável do papel e apoiar a economia circular.
Para participar é muito simples: basta doar um livro – e levar outro para casa.
Na semana passada, seis capitais brasileiras receberam mais uma edição da campanha que, em Curitiba (PR), foi realizada pela Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (APRE) e a Embrapa Florestas.
Tom Schiebel, jornalista d’A Economia B, passou na Rua XV para participar da ação e contar aqui como foi.
Ele destaca que além de colaborar com a educação, o projeto chama a atenção por sua conexão com a sustentabilidade. Afinal, o papel utilizado nos livros é produzido a partir de árvores plantadas, colhidas e replantadas para este fim, comumente em áreas antes degradadas.
Ou seja, quem circula um livro não apenas leva uma obra nova para casa, também fez parte de um movimento de circularidade que traz benefícios a todo o meio ambiente. Todo mundo sai ganhando.
Farol Recomenda
[Documentário] Rompendo barreiras: nosso planeta
Apesar de não ser novo, o documentário Rompendo barreiras: nosso planeta, lançado em 2021 e disponível na Netflix, é mais atual do que nunca.
Nele, o naturalista britânico David Attenborough e o cientista sueco Johan Rockström analisam o colapso da biodiversidade na Terra e apresentam possíveis soluções para a crise atual.
É um filme que assusta, emociona, dá raiva e um sopro de esperança.
A publicação de notícias sobre empresas não representa endosso às marcas citadas. Nossa tarefa é reportar iniciativas e fatos que podem de alguma forma inspirar melhorias no seu negócio, na sua carreira ou no seu dia a dia.
O Farol da Economia Regenerativa condena práticas como greenwashing, socialwashing, diversitywashing e wellbeing washing. As informações compartilhadas aqui passam por um processo de checagem feito pelo nosso time de jornalistas, porém, sabemos que muitas vezes à primeira vista pode não ser fácil distinguir iniciativas legítimas de tentativas de greenwashing, por exemplo. Caso você acredite que algo não deveria estar aqui, fique à vontade para nos procurar.