#16 Asa branca e as histórias que emocionam e impulsionam (transform)ações climáticas
“Quando oiei' a terra ardendo; Qual fogueira de São João; Eu preguntei' a Deus do céu, uai; Por que tamanha judiação?” – Asa Branca, Luis Gonzaga
Há menos de dois meses, estivemos em Paris para cobrir o ChangeNOW, megaevento de soluções para o planeta.
Lá, vimos a brasileira Flávia Maia falar sobre a importância de olharmos para o passado para combatermos os efeitos das mudanças climáticas em curso e construirmos um futuro mais justo, equitativo e regenerativo.
A fala de Flávia que compartilhamos aqui já tinha mexido bastante comigo. Mas foi vendo uma sequência de Stories que ela fez no Instagram no último fim de semana que decidi qual seria o tema central desta Farol da Economia Regenerativa*.
Na nossa reunião de pauta de segunda-feira, quando comuniquei minha decisão ao João Guilherme Brotto (cofundador d’A Economia B, que nos representou no evento), ele contou que a conexão que Flávia fez no Instagram entre Asa branca (o “hino” dos retirantes nordestinos) e sua motivação para a ação climática também estava em pauta na entrevista que ele gravou com ela em Paris. Não consigo nem descrever minha alegria quando soube disso. 😊
Decidimos, então, antecipar a produção de um vídeo especial sobre o olhar da Flávia para as questões mais urgentes da nossa era. O roteiro elaborado pelo João combina trechos da palestra que Flávia fez em Paris, com trechos da entrevista exclusiva que ela deu a ele após a apresentação. Sei que sou suspeita pra falar, mas ficou demais!
Flávia – que é especialista em resiliência climática, cientista social e presidente da Filha do Sol (uma ONG de defesa de direitos sociais focada na liderança feminina e na justiça climática) – fala sobre tudo o que eu queria escrever nestas linhas, mas trazendo sua história, sua ancestralidade e sua experiência na linha de frente da ação climática.
Por mais que a palestra e a entrevista tenham acontecido semanas antes do início da tragédia no Rio Grande do Sul, as reflexões não poderiam ser mais adequadas ao momento.
Recomendo muito que você tire alguns minutos do seu dia para assistir. Precisamos ouvir o que especialistas e ativistas como Flávia têm a dizer.
Desinformação, ecoansiedade, migração climática, mitigação e adaptação, soluções baseadas na natureza, justiça climática, transição energética, climatechs, etc., conceitos até então comuns apenas entre a bolha climática, serão cada vez mais recorrentes – das mesas dos Conselhos e CEOs, às mesas de bar e à da sua cozinha.
Hoje, porém, que sigamos nos deixando tocar pelas histórias que emocionam e impulsionam (transform)ações, assim como fez Flávia.
Compartilho algumas iniciativas interessantes neste sentido no restante dessa newsletter. Que a gente se inspire nelas para transformar a emoção latente em ação para ajudar a construir um futuro melhor para todos.
Natasha Schiebel
Diretora de Conteúdo A Economia B
PS: Se quiser fazer algum comentário, dar uma sugestão de pauta ou só trocar uma ideia, fique à vontade para me escrever – natasha@aeconomiab.com
*Farol da Economia Regenerativa é a newsletter semanal d’A Economia B.
Farol Recomenda
[Reportagem] Notícias de um jornal submerso
O centenário Correio do Povo cobre as inundações gaúchas enquanto suas próprias instalações estão tomadas pela enchente
“Não me arrisco a fazer uma previsão de quando a água vai baixar. Mas a gente sabe que a informação, principalmente nos alertas, pode salvar vidas. Esse é o nosso mote. Tem muita gente dedicada – me desculpe o clichê – fazendo das tripas coração para poder manter o jornal no ar. E vamos em frente.”
Pensamentos que iluminam e ecoam
“Em meio a tantos rebrandings recentes, talvez o mais necessário seja o reposicionamento das pautas ambientais.
De ‘se sobrar tempo’ para ‘vamos começar por aqui’. De ‘eventualidades’ para ‘cenário’. De ‘ninguém liga para isso’ para ‘essencial para a nossa imagem e reputação’.
Porque não é mais sobre ‘o mundo que deixaremos para as próximas gerações’.
É sobre o mundo em que vivemos – e vendemos, e consumimos, e convivemos, e ajudamos uns aos outros – hoje.”
, na última edição da newsletter
Vale a leitura
Deu n’A Economia B
🛢️ Bancos destinaram quase US$ 7 trilhões a combustíveis fósseis desde o Acordo de Paris
De acordo com relatório “Banking on Climate Chaos”, só em 2023, os 60 maiores bancos do mundo concederam US$ 705 bilhões em financiamento a empresas que conduzem negócios em combustíveis fósseis.
[Cobertura internacional]💡 Spoiler da próxima edição da Farol
Durante o ChangeNOW, o João entrevistou o CEO da plataforma de ação climática We Don’t Have Time, Ingmar Rentzhog.
O investimento em combustíveis fósseis por parte do mercado financeiro foi um dos temas da conversa (que publicaremos na íntegra, na semana que vem). Ingmar apresentou um caminho para empresas e pessoas contribuírem para mudarmos esse rumo:
Você sabia que sua marca pode apoiar nossas coberturas internacionais?
Inclusive, nossa próxima cobertura começa semana que vem. Entre os dias 23 e 24 de maio, estaremos em Amsterdam para o B For Good Leaders Summit, evento que reúne lideranças globais preocupadas com o futuro do planeta. Entre os palestrantes estão nomes como John Elkington, Sara Roversi, Marcel Fukayama, Rutger Bregman, Louise Pulford e Satish Kumar.
Tem interesse em saber como podemos trabalhar juntos? Escreve pra mim: natasha@aeconomiab.com
🇧🇷 7 em cada dez brasileiros querem mais ação climática do governo
Pesquisa realizada em 33 países aponta a população brasileira como uma das mais exigentes quando o assunto é o combate às mudanças climáticas. As principais conclusões da pesquisa incluem: queda no sentimento de responsabilidade pelo combate à crise climática; fatalismo entre os jovens; e percepção de que os países que mais contribuem para a emergência climática devem pagar mais para resolvê-la.
💡 Transição energética: 30% da eletricidade global já vem de fontes renováveis
Relatório revela que aumento contínuo nas instalações eólicas e solares impulsionou as energias renováveis em 2023, e estima que geração elétrica à base de combustíveis fósseis caia 2% este ano.
🍿 Hollywood na berlinda climática
A ferramenta The Climate Reality Check avalia a representação das mudanças climáticas em produções cinematográficas. Três filmes que concorreram a prêmios no Oscar deste ano passaram no teste: Barbie, Missão: Impossível e Nyad.
Farol Recomenda
[Podcast] Cidades-esponja e a adaptação à crise climática
Um levantamento da Casa Civil e do Ministério das Cidades divulgado no início deste ano aponta que mais de 1.900 municípios do Brasil estão em zonas de risco quanto aos eventos extremos do clima.
Além disso, quase 9 milhões de brasileiros vivem em áreas expostas a desastres. Daí a necessidade, cada vez mais urgente, de cidades se adaptarem para lidar com eventos climáticos extremos e suas consequências – cada vez mais intensas e frequentes.
Novos arranjos urbanísticos aparecem como possível solução, entre eles, as chamadas cidades-esponja.
Para discutir a adaptação do espaço urbano, neste episódio do podcast O Assunto, Natuza Nery recebe a arquiteta e urbanista Taneha Bacchin, professora em projeto urbano da Universidade Técnica de Delft, na Holanda.
Tahena é especialista em gestão sustentável de águas urbanas e em risco ambiental, e detalha como funcionam as cidades-esponja e outras medidas de adaptação consideradas modelo e já adotadas em outros países.
Você sabia que…
… cerca de 51% das cidades europeias têm planos de adaptação climática – um aumento de 26% desde 2018? Destes, aproximadamente 91% incluem o uso de soluções baseadas na natureza.
É impossível combater as mudanças climáticas e preparar as cidades para lidar com suas consequências sem contar com o apoio da natureza.
Neste artigo, apresentamos três soluções baseadas na natureza simples e eficientes em destaque no relatório Adaptação urbana na Europa: o que funciona? Implementando a ação climática em cidades europeias.
Não esqueça que 2024 é ano eleitoral no Brasil. Quando for escolher a quem dar seu voto para vereador, prefeito/vice-prefeito, preocupe-se em entender como eles enxergam a crise climática e quais são seus planos para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e adaptar nossas cidades a uma nova realidade ambiental. Essa é a pauta mais importante do século. Se não estiver no plano de ação de seu candidato, ele não merece seu voto.
Farol Recomenda
[Webinar] Imersão justiça e adaptação climática
Como forma de apoiar financeiramente as ações emergenciais do Rio Grande do Sul, o Sistema B Brasil realizará a Imersão Justiça e Adaptação Climática.
O evento online acontece nesta quinta-feira (16 de maio), às 19h, e contará com a participação de:
Greta Paz – empresária gaúcha da Rede B que está trabalhando como voluntária em Porto Alegre;
Marcel Fukayama – cofundador do Sistema B Brasil;
Mariana de Paula – cofundadora e Diretora Executiva do LabJaca;
Denise Hills – conselheira de empresas, pioneira dos ODS pela ONU;
Natalie Unterstell (presidente do Talanoa e membra do Green Climate Fund).
100% do valor arrecadado será doado ao Rio Grande do Sul.
[E-book] Guia Reset do Escopo 3 – Por que e como medir a pegada de carbono da cadeia de valor
Num mundo que corre contra o relógio para descarbonizar a economia e conter o avanço da crise climática, medir e cortar as emissões de gases de efeito-estufa das atividades diretas dos negócios está longe de ser suficiente.
Em grande parte dos setores, é na cadeia de valor das empresas que acontece a maior parte das emissões.
Fazer o diagnóstico da pegada de carbono de toda a cadeia e agir para reduzi-la está longe de uma tarefa simples. O Guia Reset do Escopo 3 – Por que e como medir a pegada de carbono da cadeia de valor traz contexto, conceitos e um roteiro básico, do diagnóstico à ação, para colocar a descarbonização da cadeia de valor em marcha.
[Para inspirar] Empresas que são forças para o bem
Por falar em escopo 3…
A varejista de moda Everlane tem uma política de “Transparência Radical”, oferecendo aos consumidores informações detalhadas de suas cadeias de suprimento, incluindo os custos de produção e as margens de cada produto.
A produtora de papel Klabin realiza auditorias bimestrais em sua cadeia de suprimentos para garantir a aderência às normas de Cadeia de Custódia e a rastreabilidade da madeira utilizada, visando a sustentabilidade florestal e incentivando a certificação e capacitação de seus fornecedores parceiros.
O “Recibo de Impacto” da ASKET é um documento enviado junto com o recibo de compra regular, detalhando emissões de CO2, consumo de água e energia associados à produção de cada peça adquirida, incluindo embalagem e escolha de transporte. A iniciativa visa conscientizar sobre o verdadeiro custo ambiental da produção de roupas.
[O Brasil pelo Rio Grande do Sul]
SOS Rio Grande do Sul
A Secretaria de Inovação de Porto Alegre e o Tecnopuc (PUC-RS) lançaram um desafio: criar uma solução digital que integrasse as informações geradas pelos abrigos.
Até agora, mais de 100 profissionais atenderam ao chamado, entre:
Desenvolvedores
Cientista de dados
Analistas
Administradores
Comunicadores
O grupo está trabalhando desde sábado (04/05) de forma presencial e remota no Tecnopuc.
Em seis dias, um sistema que conecta as necessidades dos abrigos com as doações em tempo real foi criado. Conheça!
Um grupo de voluntários está fazendo a ponte com os abrigos para alimentar as informações. Em paralelo, os desenvolvedores estão criando as automações necessárias. São cerca de 315 abrigos ativos no momento (só em Porto Alegre, são mais de 100 locais de acolhimento).
O coletivo, que conta com mais de 350 voluntários no total, já mapeou 235 abrigos até o momento, e está distribuindo 600 mil litros de água por dia. Acompanhe o trabalho deles no Instagram.
Quer ajudar (de forma presencial ou remota)? Acesse https://shorturl.at/eflvM.
Doe para o RS
Não sabe quem está por trás daquele PIX? Tem medo que sua doação não chegue a quem mais precisa?
Aqui, você encontra diversas iniciativas de entidades e pessoas que estão no front, ajudando quem precisa das mais diversas maneiras para que seu dinheirinho vá ao lugar certo.
Água até aqui
Faça download da mensagem, mobilize sua comunidade e espalhe pela sua cidade para que mais pessoas vejam e reflitam sobre os impactos dos eventos climáticos extremos.
[Para seguir pensando]
[via O Globo] Desabrigados do Rio Grande do Sul podem ser categorizados como 'refugiados climáticos'? Entenda
[via Folha de S. Paulo] ‘PAC hoje não é resiliente, nem ao clima atual, muito menos ao que vem aí’, diz especialista
[via Lupa] Para onde vai o dinheiro do PIX do governo do Rio Grande do Sul?
[via Climainfo] Trump promete acabar com as leis climáticas nos EUA em troca de US$ 1 bilhão de empresas Big Oil
[via Fantástico] Cidades-esponja: conheça conceito que usa ciência para prevenir tragédias como a do RS
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