#8 – O superciclo tecnológico e as mudanças climáticas
Um olhar sobre as tendências relacionadas à energia e ao clima do relatório apresentado por Amy Webb no SXSW e uma curadoria de notícias, tendências, insights e histórias que você vai gostar ⭐
No último sábado (09/03), a futurista norte-americana Amy Webb subiu ao palco do festival de inovação SXSW para apresentar o relatório anual de tendências de tecnologia da Future Today Institute, consultoria especializada em previsão estratégica, da qual é CEO.
Na palestra, Amy contou que, no início do último trimestre de 2023, ela e seu time notaram que havia um novo padrão emergindo: um superciclo tecnológico.
Emprestado do universo econômico, o termo “superciclo” se refere a um período prolongado de demanda crescente que eleva os preços e ativos a patamares sem precedentes.
“No passado, superciclos eram definidos por apenas uma tecnologia; não é o que está acontecendo agora. O que observamos é que existem três tecnologias que vão impulsionar tudo. São elas: biotecnologia, ecossistemas conectados de coisas e inteligência artificial. E é isso que o torna um superciclo tecnológico”, explica.
Para Amy, todas as 8 bilhões de pessoas na Terra hoje (Baby boomers, Geração X, millennials, Gen Z e Gen Alpha) formam o que ela chama de Geração T, a geração da transição. “Depois que essa transição completar seu ciclo, a sociedade será muito, muito diferente”, avalia.
O superciclo tecnológico é o tema central do 2024 Tech Trends Report da Future Today Institute. O documento apresenta 695 tendências (pois é!), tem 979 páginas e está organizado em 16 seções, uma delas dedicada à energia e ao clima.
Nesta edição do Farol da Economia Regenerativa*, trazemos os destaques desta seção, além da nossa curadoria de notícias e histórias que acreditamos que você vai gostar de conhecer.
Boa leitura!
Head de Conteúdo A Economia B
*Farol da Economia Regenerativa é a newsletter semanal de A Economia B.
Um olhar sobre as tendências relacionadas à energia e ao clima
Nas 80 páginas do relatório de tendências tecnológicas relacionadas à energia e ao clima, os pesquisadores do Future Today Institute analisam o cenário atual no campo da ação climática, falam sobre ameaças e oportunidades, apresentam os temas mais quentes do momento, ilustram suas percepções com exemplos práticos… enfim, é um material denso e que merece leitura atenta. Ele está disponível gratuitamente (em inglês) aqui.
A missão de resumi-lo é árdua (e injusta, convenhamos). O que você vai ler aqui é uma seleção de insights apresentados no relatório, combinada com algumas inovações que ilustram como essas tendências se materializam no dia a dia.
É um pequeno recorte que tem o objetivo de despertar seu interesse para saber mais sobre esses temas que serão cada vez mais importantes para as organizações –inclusive, o Future Today Institute aponta no estudo que em no máximo 15 anos, tendências relacionadas à energia e ao clima terão provocado disrupções em todas as indústrias.
Da revolução à evolução
Em 2023, governos fortaleceram regulamentações ESG, pressionando as empresas a serem mais transparentes em relação a suas emissões de carbono. Na visão dos autores do relatório, essa pressão crescente sobre a prestação de contas pode acabar direcionando o foco para métricas equivocadas, prejudicando iniciativas ambientais eficazes.
Por outro lado, impactos ambientais agora são definidos de maneira mais abrangente, aumentando as responsabilidades das empresas.
“O framework aprovado na Conferência de Biodiversidade da ONU em 2022 amplificou a proteção dos ecossistemas biológicos, acesso equitativo e direitos humanos. Em 2023, a COP28 teve seu primeiro dia dedicado à saúde, e as nações se comprometeram a incluir sistemas alimentares em suas Nationally Determined Contributions (NDCs) atualizadas. Mais responsabilidades podem surgir de uma série de processos judiciais que decidirão se os responsáveis pelos efeitos das mudanças climáticas que causaram podem ser responsabilizados”.
Por fim, o recado que fica é: “se os tribunais decidirem que sim, prepare-se para mudanças drásticas nos esforços regulatórios e práticas empresariais”.
Deu n'A Economia B
As notícias abaixo, publicadas em A Economia B nas últimas semanas, mostram que, na União Europeia, isso já vem acontecendo. Não deve demorar para que iniciativas semelhantes sejam colocadas em prática em outros cantos do mundo:
Nova Diretiva de Alegações Verdes: União Europeia contra o greenwashing
União Europeia chega a acordo sobre “lei do direito ao conserto”
Além disso, o relatório também destaca que tensões geopolíticas e uma frequência maior de eventos climáticos extremos aumentam o risco de interrupções nas cadeias de suprimentos, assim como o aumento de preços e a escassez de materiais base e mão de obra necessários.
À medida que as capacidades de rastreamento das emissões dos escopos 1, 2 e 3 se expandem, as empresas devem estar preparadas para descobrir que a pegada de emissões de carbono é muito mais significativa do que o esperado (e menos sob seu controle).
Deu n'A Economia B
Nas últimas semanas, falamos sobre duas novas “calculadoras de emissões”. Elas corroboram essa tendência e ligam o alerta para a importância de medir para entender e agir para controlar e reduzir emissões:
Outro ponto de atenção, segundo o Future Today Institute, é uma abordagem mais holística das emissões de gases de efeito estufa – embora as emissões de dióxido de carbono estejam no centro da conversa climática.
O relatório destaca que tanto os Estados Unidos quanto a União Europeia tomaram medidas para controlar as emissões de metano – principal componente dos combustíveis fósseis, que tem um poder de aquecimento 80 vezes maior do que o CO₂ durante seus primeiros 20 anos na atmosfera.
Deu n'A Economia B
Neste artigo, apresentamos o “Google Maps da emissão de metano”, uma iniciativa do Environmental Defense Fund (EDF) apoiada pela big tech que mapeia as emissões de metano a partir de modelagem de inteligência artificial e imagens de satélite.
Todo esse contexto torna fundamental avaliar a expertise existente e contratar ou treinar funcionários com as habilidades necessárias para integrar tecnologias climáticas.
Porém, como alerta o 2024 Tech Trends Report do Future Today Institute, em um mercado de trabalho já restrito e uma força de trabalho sobrecarregada, essa pode ser uma missão desafiadora.
Deu n'A Economia B
Estas duas iniciativas mostram possíveis caminhos para superar esse desafio:
Investimentos e ações a considerar
A partir da análise feita no relatório sobre energia e clima do 2024 Tech Trends Report, Amy Web e seu time sugerem uma série de investimentos e ações a se considerar. Destacamos estas três:
Com a inovação avançando significativamente no rastreamento de carbono, invista tempo na busca pela plataforma e ecossistema de sensores que melhor se adequam ao seu negócio e cadeia de suprimentos. Essas tecnologias impactarão todos os aspectos do seu negócio, tornando a implementação de novos equipamentos e software muito cara.
Sustentabilidade está se tornando um esforço mais amplo e agora inclui biodiversidade, práticas éticas e proteção de comunidades indígenas. Trabalhe para obter insights sobre essas áreas em toda a sua cadeia de suprimentos para se preparar para as pressões regulatórias.
Explore novas oportunidades para não apenas ficar por dentro da inovação, mas também para fazer parte do ecossistema de investimentos, pesquisa e desenvolvimento. Isso garante que os gargalos e problemas específicos do seu negócio estejam sendo resolvidos e pode até levar a novos modelos de negócios licenciando a tecnologia desenvolvida.
Nossa curadoria (de notícias, inovações, tendências etc.) – tanto aqui no Farol da Economia Regenerativa, quanto em A Economia B – te ajuda em tudo isso.
Você sabia que…
A UNICEF estima que as mudanças climáticas já representam um risco extremamente alto para um bilhão de crianças globalmente?
Nesse contexto, a educação ambiental é fundamental tanto para manter o otimismo, quanto para saber como agir em eventos extremos. Porém, falando especificamente do continente africano (que a UNICEF aponta como particularmente vulnerável), a alfabetização em mudanças climáticas, por exemplo, varia de 23% a 66% da população em 33 países, segundo uma pesquisa publicada na revista Nature.
Uma startup queniana nasceu com a missão de promover a equidade na educação – e, consequentemente, ajudar a melhorar esses índices…
Empresas que são forças para o bem
A Ukwenza VR é um negócio de impacto que oferece conteúdo educacional em realidade virtual (VR) para complementar o aprendizado em sala de aula e capacitar crianças e adolescentes em questões sociais e ambientais.
Em parceria com professores e escolas e a partir das vivências virtuais, a startup prepara os jovens para compreender questões ambientais sérias – como, por exemplo, a poluição plástica e as mudanças climáticas.
Por meio de simulações realistas, a Ukwenza “transporta” os estudantes para ambientes afetados por problemas ambientais. Enquanto as experiências de VR permitem que eles testemunhem virtualmente como, por exemplo, o lixo plástico afeta a vida marinha, os animais terrestres e a saúde humana, os debates que se seguem contribuem para o desenvolvimento dos jovens nessas temáticas.
A Ukwenza oferece suas experiências de realidade virtual em escolas públicas por meio de programas de responsabilidade social corporativa e apoio de outros financiadores. Em escolas privadas, a startup trabalha com pais que pagam uma assinatura para que os alunos possam acessar o conteúdo.
Curadoria do Farol
Produção: Francine Pereira, João Guilherme Brotto, Natasha Schiebel e Tom Schiebel
⚽ Golaço: UEFA lança calculadora de pegada de carbono
Calculadora de pegada de carbono da União das Federações Europeias de Futebol visa ajudar clubes e ligas a calcular – e reduzir – seu impacto ambiental
⭐ Quantas estrelas você daria para uma “corrida sustentável”?
Com o objetivo de incentivar usuários a escolherem veículos menos poluentes, nova funcionalidade do app da Uber permite que passageiros acompanhem as emissões de carbono de suas corridas
♻️ Liberdade, igualdade, fraternidade e sustentabilidade
França considera taxar roupas de “ultra fast fashion” para compensar impacto ambiental. Governo também planeja proibir publicidade e introduzir um sistema de incentivos financeiros para incentivar moda sustentável
☀️ Taxa turística vai financiar instalação de painéis solares em escolas de Barcelona
100 milhões de euros arrecadados com taxa turística serão direcionados para projeto que visa mitigar efeitos das mudanças climáticas e ampliar a transição ecológica em Barcelona
🚨 Google Map(s) das emissões de metano
Google e Environmental Defense Fund (EDF) se unem para mapear emissões de metano a partir de modelagem de inteligência artificial e imagens de satélite
Pensamentos que iluminam e ecoam
“Quando a empresa não tem um quadro de colaboradores diverso, não tem diversidade de ideias, de opiniões e de pontos de vista. E perde muito por isso. Perde pela cegueira, pela falta de experiência, pela falta de vivências diversas. Isso impede que a inovação aconteça, que o novo floresça. Diversidade, equidade e inclusão são essenciais para os negócios.”
Maira Liguori, Diretora de Impacto da Think Eva e da Think Olga
Farol Recomenda
[Entrevista] Um chamado da Amazônia, “centro do mundo”, para um empreendedor e contador de histórias
Em “Banzeiro òkòtó: uma viagem à Amazônia centro do mundo”, a jornalista Eliane Brum fala sobre a ideia de ressignificar o que se entende por centro do mundo. Já faz alguns anos que ela mora em Altamira (PA) porque, como conta no livro…
“Altamira, o Xingu e a Amazônia me deram a compreensão de que não há casa para mim quando o planeta inteiro se retorce, partes dele em agonia. Nunca mais me senti em casa em lugar algum.”
Durante o Web Summit 2023, em Lisboa, quando João Guilherme Brotto (cofundador d’A Economia B) viu que um português iria apresentar sua startup baseada no Pará durante uma sessão de pitches, ficou curioso para entender melhor do que se tratava e, na hora, lembrou do ‘Banzeiro’ e do centro do mundo.
Nos dois minutos em que esteve no palco, Miguel Pinheiro apresentou a Green-C, powerhouse criativa/boutique online baseada em uma comunidade remanescente de quilombo nas margens do Rio Tocantins, no Pará. Em poucas palavras, a Green-C existe para fomentar a bioeconomia na Amazônia.
João convidou Miguel para uma entrevista em que não falaram muito sobre negócios, mas bastante sobre a Amazônia, a bioeconomia, o Brasil que não fala português e a sua inusitada jornada de vida.
[Podcast] Regina Rodrigues: “O aquecimento dos oceanos piora eventos climáticos extremos”
Você sabia que cerca de 90% do calor em excesso da Terra é absorvido pelos oceanos?
Neste episódio do Podcast da Semana (da Gama), Regina Rodrigues, que é oceanógrafa e professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), revela quais são as consequências disso não apenas para a vida marinha, mas para o planeta como um todo.
Ela diz que veremos as consequências do aumento de temperatura por séculos ainda; e que os eventos climáticos extremos tendem a ficar piores. Porém, por mais que as previsões sejam desastrosas, existem caminhos que podem levar à mudança. Regina fala sobre alguns deles.
[Vídeo] Plantando o futuro na Amazônia: Uma realidade virtual pelas agroflorestas de cacau
Combinadas com a transição da matriz energética para fontes renováveis, as soluções baseadas na natureza, como as agroflorestas, podem contribuir com um terço das reduções de emissões que precisamos até 2030 para evitar os piores impactos das mudanças climáticas.
Neste vídeo (que, para mim, ofereceu uma experiência inédita e superinteressante), Rosely Dias, agricultora em uma das Unidades de Conservação mais ameaçadas do Brasil, te convida a conhecer o potencial das agroflorestas para restauração e geração de renda.
Próxima parada: Paris
Entre os dias 25 e 28 deste mês, estaremos na capital francesa para cobrir o ChangeNOW, um superevento de soluções para o planeta.
Acompanhe a cobertura em tempo real nas nossas redes sociais (Instagram e LinkedIn). Nas semanas seguintes ao evento contaremos mais sobre o que vimos por lá em A Economia B e, claro, aqui no Farol. Acompanhe!
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