Newsletter do Farol #5 – COP28 marca “o início do fim” dos combustíveis fósseis
A COP28 chegou ao fim. Saiba como especialistas avaliam o relatório final da conferência do clima e confira outros destaques do evento
A reta final da COP28 foi movimentada.
Na noite de terça-feira, 12 de dezembro, o último texto preliminar do Global Stocktake veio a público e recebeu duras críticas. Foi preciso uma longa madrugada de negociações para os quase 200 países-membros da Conferência das Partes chegarem a um acordo e aprovarem o documento final.
O texto apresentado na manhã de ontem (quarta, 13) frustrou as expectativas daqueles que entendiam que o momento exige uma ação contundente contra os combustíveis fósseis, pois não cita eliminação gradual (phase out), nem redução gradual (phase down).
Porém, pela primeira vez em 30 anos de conferências climáticas, propõe uma transição energética para longe dos combustíveis fósseis. A recomendação é que isso seja feito de maneira justa, ordenada e equitativa, acelerando a ação nessa década crítica para alcançar net zero até 2050.
Nesta edição da Newsletter do Farol, trazemos análises que mostram como o Global Stocktake foi recebido por especialistas, além das principais notícias que movimentaram a segunda semana da conferência.
Boa leitura!
Editora A Economia B e Cofundadora do Farol da Economia Regenerativa
PS: Na última edição da Newsletter do Farol, apresentamos os destaques da primeira semana da COP28. Você pode ler aqui.
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Publicada no jornal britânico The Guardian, a charge do artista Ben Jennings provoca:
– Você poderia parar com todos esses assassinatos em série?
– Parece fantasioso. Vou tentar me afastar disso.
Você sabia que…
A COP29 (que acontecerá em 2024) será no Azerbaijão?
Isso significa que, pelo terceiro ano consecutivo, a principal conferência climática do mundo será realizada em um país que vive sob um regime autoritário. Egito (sede da COP27) e Emirados Árabes Unidos (onde terminou ontem a COP28) completam essa lista.
Além disso, o Azerbaijão é mais um “petroestado”.
Segundo análises da Carbon Tracker, 64% do PIB do país vem de receitas da produção e exportação do petróleo, o que o coloca entre as dez economias mais dependentes de petróleo no mundo.
Ou seja, essa é mais uma escolha controversa.
No mesmo dia do anúncio que a COP29 acontecerá no leste europeu, Belém (PA) foi confirmada como palco da edição de 2025.
“A Amazônia nos mostra o caminho, com sua imensa biodiversidade e enorme território ameaçado pelas mudanças climáticas. Ela nos lembra o quanto as três Convenções do Rio estão entrelaçadas nos seus desafios, mas também nas soluções sinérgicas que abarcam. Realizar a COP 30 no seio da floresta é nos lembrarmos, com força, da responsabilidade de manter o planeta dentro da nossa missão de 1,5°C”, declarou Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
Curadoria do Farol
O saldo final da COP28 na visão de especialistas
Desde que veio a público, o relatório final da COP28 passou pela análise atenta de especialistas do mundo todo. O olhar deles tornar os pontos fortes e fracos do Global Stocktake mais claros.
Criei um slideshow com algumas reflexões que elucidam aspectos importantes do documento. Clique na imagem abaixo e confira.
→ Para entender melhor os resultados da COP28 nos eixos de combustíveis fósseis, transição energética e adaptação, vale a leitura desta análise publicada pelo Instituto ClimaInfo.
Das controvérsias da COP28: os bilionários das indústrias poluentes
Uma análise feita pela Oxfam apontou que as fortunas de pelo menos um quarto dos 34 bilionários inscritos como delegados da COP28 (que, juntos, têm um patrimônio de cerca de US$ 495,5 bilhões) foram construídas em setores altamente poluentes – como petroquímica, mineração e produção de carne.
Como destaca o jornal britânico The Guardian, que publicou a análise com exclusividade, isso levanta preocupações sobre a influência exercida pelos megaemissores ultra-ricos nos esforços mundiais para enfrentar a crise climática.
ONU propõe roteiro de combate à insegurança alimentar com redução de emissões de metano
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que mais de 600 milhões de pessoas enfrentem fome crônica mundialmente até 2030. Erradicar a fome e fomentar a agricultura sustentável é o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2 da Agenda 2030.
No domingo (10/12), Dia da Alimentação, Agricultura e Água na COP28, a FAO (agência especializada do Sistema ONU que trabalha no combate à fome e à pobreza por meio da melhoria da segurança alimentar e do desenvolvimento agrícola) lançou sua nova estratégia para tornar isso possível.
O Roteiro Global para alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2 (ODS 2) sem ultrapassar o limite de 1,5°C consiste em um programa de três anos para transformar radicalmente o uso da terra e os sistemas alimentares.
“Reconhecendo a complexidade desse empreendimento, dividimos estrategicamente o processo ao longo de três anos. Essa progressão deliberada permite tempo suficiente para que os países abracem plenamente nossa visão, fomentando um compromisso coletivo que encontrará sua culminação na COP30 – uma ocasião monumental prestes a se desdobrar na vibrante paisagem do Brasil. A trilogia das COPs [28, 29 e 30] encapsula nossa dedicação em inaugurar uma era transformadora nos sistemas agroalimentares globais, unindo nações em uma narrativa compartilhada de progresso e sustentabilidade”, explica a FAO.
O documento detalha mais de 120 ações e marcos para transformar a produção de alimentos em resposta às ameaças duplas da crise climática e da fome crônica em escala global.
→ É possível ler o roteiro da FAO na íntegra (em inglês) aqui.
Saiba mais: O agravamento da insegurança alimentar no Brasil e o papel das empresas no combate à fome foi tema deste artigo publicado em A Economia B. Vale a leitura!
Brasil lidera Aliança para a Transformação dos Sistemas Alimentares
De acordo com a FAO, os custos totais ocultos dos sistemas alimentares chegam a US$ 12,7 trilhões – aproximadamente 10% do PIB global. Enquanto isso, os subsídios agrícolas governamentais anuais estão impulsionando 2,2 milhões de hectares de desmatamento por ano e mais de 3 bilhões de pessoas não podem pagar dietas nutritivas.
Esses dados motivaram a criação da Alliance of Champions (ACF).
Definida como uma coalizão de países unidos por uma ambição compartilhada de transformar os sistemas alimentares para proporcionar melhores resultados para as pessoas, a natureza e o clima, a ACF é co-presidida pelo Brasil, pela Noruega e por Serra Leoa.
No cerne da participação na ACF está o compromisso dos governos membros de atuar em todas as dez áreas prioritárias de intervenção:
Aumentar a acessibilidade;
Melhorar os meios de subsistência;
Aprimorar a resiliência;
Reduzir as emissões de gases de efeito estufa;
Proteger e restaurar a natureza;
Ampliar práticas de manejo sustentável;
Reduzir a perda e o desperdício de alimentos;
Acelerar a inovação;
Promover a igualdade de gênero;
Realinhar incentivos financeiros e políticas públicas.
Ao justificar a entrada do Brasil na ACF, Paulo Teixeira, Ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, e copresidente da aliança, disse:
“Os agricultores familiares, indígenas e comunidades locais, coletores de florestas, pastores, pescadores e trabalhadores agrícolas estão entre as populações mais duramente afetadas pelas mudanças climáticas em todo o mundo. No entanto, eles também são os atores centrais que podem transformar os sistemas alimentares de maneira sustentável. Apoiar seus meios de subsistência por meio de políticas públicas especificamente adaptadas é essencial para alcançar uma transição agroecológica em direção a sistemas alimentares saudáveis, resilientes e sustentáveis”.
Das controvérsias do Brasil: país lidera ranking de lobistas da indústria da carne na COP28
Como destaca esta reportagem publicada no site ((o))eco, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura estima que entre 12% e 14,5% das emissões globais de gases estufa sejam resultado da produção de carne. No Brasil, a pecuária representa 57% do total de emissões.
Mesmo assim, o Brasil foi o país que mais levou lobistas do agro para a COP28.
O levantamento de ((o))eco feito a partir de dados da organização britânica DesMog revela que a representação brasileira de lobistas na Conferência do Clima das Nações Unidas equivale a 10,6% dos membros de grandes indústrias mundiais do agro presentes em Dubai. Dos 36 lobistas brasileiros, 34 são ligados à indústria da carne.
((o))eco informa ainda que da lista de lobistas brasileiros presentes na COP 28, com exceção da Bayer, todos viajaram como parte da delegação oficial do Brasil, “o que concede acesso privilegiado às negociações diplomáticas”, destaca a reportagem.
“Isto é, mesmo que em nível global o uso de combustíveis fósseis seja o maior vilão do aquecimento global, internamente, o Brasil precisa olhar para as atividades que causam a mudança no uso do solo, que abocanha a maior fatia das emissões nacionais”, analisa Cristiane Prizibisczi, que assina o texto.
Colômbia ganha prêmio “Ray of the Day” por liderança na COP28
Na segunda-feira (11), a Colômbia recebeu da Climate Action Network (CAN) o prêmio “Raio do Dia” por sua liderança na COP28.
Em nota, a rede global de ONGs que na semana passada concedeu ao Brasil o antiprêmio Fóssil do Dia pela entrada na Opep+, disse que em raras ocasiões destaca um país que está nos dando esperança e fazendo a coisa certa, mas que neste ano a cúpula do clima trouxe alguns raios de sol, muitos deles graças a um país.
“A Colômbia tem sido uma luz brilhante consistente. Eles realmente foram os olhos claros e os corações grandes na eliminação progressiva dos combustíveis fósseis (...). O discurso do Presidente Petro escolhendo a vida e endossando o Tratado de não-proliferação de combustíveis fósseis foi complementado pelas intervenções contínuas da Ministra do Meio Ambiente, Susana Muhamad, impulsionando as conversas que o mundo precisa desesperadamente neste momento crítico, em direção ao fim da era dos combustíveis fósseis.”
Na visão da CAN, a Colômbia tem sido catalisadora na construção de apoio para uma eliminação completa, justa, rápida e financiada de todos os combustíveis fósseis.
Além disso, a nota destaca a defesa – e pressão – colombiana pela inclusão dos direitos humanos, trabalhistas, de gênero e dos povos indígenas, bem como pela inclusão da sociedade civil no processo de luta por justiça climática.
Por fim, a CAN fala sobre a abertura da delegação colombiana para se envolver com a sociedade civil – tanto antes quanto durante a COP, o que demonstra um compromisso em integrar visões democráticas de governança ambiental. “Sua liderança em perdas e danos, gênero, equilíbrio global, adaptação, financiamento e transição justa ressoa com milhões na América Latina diretamente afetados pelas mudanças climáticas”, conclui a rede que reúne mais de duas mil ONGs, de 150 países.
Relatório síntese do IPCC ganha versão em português
Com o objetivo de facilitar o acesso e ampliar a difusão das informações científicas mais recentes sobre mudança do clima para toda a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o Pacto Global da ONU no Brasil traduziram relatório síntese do IPCC para português.
O documento está disponível aqui. Vale a leitura.
Pensamentos que iluminam e ecoam
“A ciência é clara: o limite de 1,5°C é possível apenas se, em última instância, pararmos de queimar todos os combustíveis fósseis. Não reduzir. Não atenuar. Eliminar gradualmente – com um cronograma claro alinhado com 1,5°C.”
António Guterres, secretário-geral da ONU, em nota enviada à imprensa. Um lembrete de que ainda há muito caminho pela frente…
Farol recomenda
[Webinar] Download COP28
Hoje (quinta-feira, 14 de dezembro), às 12h, o Reset fará um debate sobre o resultado da COP28, os desafios do mundo para atingir as metas de descarbonização acordadas e o que isso representa de oportunidades para o Brasil.
A conversa terá a moderação de Sérgio Teixeira Jr, editor do Reset que cobriu o evento direto de Dubai, além de três convidados:
Luciana Nicola, diretora de relações institucionais e sustentabilidade do Itaú
Ricardo Mastroti, diretor executivo do CEBDS
Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa
[Entrevista] “Precisamos de uma revolução na agricultura”, diz Rockström
Durante a COP28, a Universidade de Exeter e o Global System Institute publicaram o relatório “Global Tipping points”, que mapeia todos os pontos de viradas climáticos e ecológicos. O documento, que tem quase 500 páginas e foi produzido com o apoio de mais de 200 pesquisadores, é considerado a primeira grande avaliação científica global sobre os pontos de inflexão dos sistemas terrestres.
Em entrevista à jornalista Daniela Chiaretti, do Valor Econômico, o climatologista sueco Johan Rockström, que participou do desenvolvimento do estudo, falou sobre as principais descobertas do levantamento, explicou como os pontos de inflexão de clima e ecologia se somam e disse o que pensa da COP28.
[Podcast] As crianças e a crise climática
Segundo o Unicef, 1 bilhão de crianças vivem em risco climático extremamente elevado no mundo. Só no Brasil, são 40 milhões expostas a mais de um fator do tipo.
A partir desse contexto, o episódio de terça-feira (12 de dezembro) do podcast Café da Manhã discute os efeitos das mudanças climáticas nas crianças.
JP Amaral, gerente da área de Natureza do Instituto Alana, que atua na proteção de direitos das crianças, analisa como as demandas delas estão sendo levadas em conta.
Esta semana no Farol
Cobertura Internacional + Entrevista exclusiva
Você já ouviu falar em “economia centrada na vida”?
Esse foi o tema da palestra de Tim Leberetch, cofundador da House of Beautiful Business, na NEXT Conference deste ano.
Durante o evento – que aconteceu em Hamburgo (Alemanha) –, João Guilherme Brotto, jornalista e cofundador do Farol da Economia Regenerativa, teve a oportunidade de entrevistar Tim.
Os dois conversaram sobre liderança regenerativa, mudanças na cultura do trabalho e, claro, sobre a tal economia centrada na vida.
A entrevista será publicada no Farol nos próximos dias. Acesse nossa plataforma e confira!
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