Farol #22 – Borra de café pode virar cogumelo? 🧐
Conheça a startup portuguesa Nãm, um projeto de economia circular que transforma borra de café em cogumelos frescos, e que fará parte da nossa Pangeia
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*Farol da Economia Regenerativa é a newsletter d’A Economia B.
Editorial
Na última edição da Farol, contamos que o sétimo Estudo B será um guia sobre inovação, tendências e histórias de impacto socioambiental e ação climática no setor de alimentos e bebidas na América Latina (de onde viemos – e para onde sempre olhamos) e Europa (onde parte do nosso time mora).
Estamos na etapa de pesquisa do guia – que, basicamente, consiste em analisar todas as empresas B certificadas nas duas regiões para escolher as histórias que entrarão no relatório e entrevistar profissionais dessas organizações e especialistas do mercado para trazer novas visões e análises.
Por mais que os textos ainda não estejam prontos para serem publicados, a vontade de dividir algumas das nossas descobertas é grande. Então, decidimos fazer isso aqui na newsletter. 🙂
A análise das empresas B portuguesas ficou a cargo do João Guilherme Brotto – cofundador d’A Economia B. E é ele quem solta o primeiro spoiler do Estudo B #7 – Pangeia: onde boas ideias se encontram.
No início deste ano, fui a Paris cobrir o ChangeNOW, principal evento de soluções para o planeta. Voltei de lá fascinado com um case de uma empresa que produzia alimentos a partir do micélio.
Em linguagem de leigo, o micélio é parte “escondida” do cogumelo, que fica embaixo da terra ou dentro do material onde ele cresce, como se fosse sua “raiz”; é uma rede de filamentos finos que cresce no solo ou em materiais como madeira e ajuda a alimentar o cogumelo e decompor matéria orgânica, reciclando nutrientes no ambiente. Aqui tem uma explicação mais detalhada.
Na pesquisa para o Estudo B #7, mais uma vez uma história envolvendo cogumelos chamou minha atenção.
Em Portugal, descobri a Nãm, que se descreve como um projeto de economia circular e uma fazenda urbana de cogumelos que transforma borra de café em cogumelos frescos. A missão da Nãm é revolucionar a maneira como percebemos a agricultura, o gerenciamento de resíduos e a preservação ambiental.
O cultivo de cogumelos está no centro das operações da empresa. Todo o processo é planejado para minimizar o desperdício e maximizar os benefícios ambientais. Segundo a empresa, as 80 toneladas de fertilizante geradas não são descartadas, mas devolvidas ao solo, enriquecendo-o e completando o ciclo de nutrientes.
“Em apenas um ano, nossas operações resultam na remoção de 60.900kg de CO2 da atmosfera. Para colocar em perspectiva, isso é equivalente à quantidade de carbono sequestrada por 6.090 árvores ou à retirada de 1.538 carros das ruas. Esses números não são apenas estatísticas; eles representam nosso compromisso em combater as mudanças climáticas e criar um futuro mais sustentável para as próximas gerações”, diz a marca.
Vamos detalhar essa história no relatório, mas hoje queria dividir a visão do CEO da empresa, Natan Jacquemin.
Ele me disse que acredita que o maior desafio do século XXI é conseguir reconciliar a economia e a ecologia.
“Muitas vezes, quando falamos de proteger a natureza, falhamos em criar valor econômico, e vice-versa. Nós sonhamos em conseguir um modelo de negócio capaz de criar valor econômico e, ao mesmo tempo, fazer o seu melhor em proteger ou regenerar a natureza. O nosso modelo econômico não é perfeito e provavelmente nunca será. No entanto, a nossa melhor oportunidade de chegar a um modelo econômico mais sustentável é de replicar a Natureza. A natureza inventou um modelo tão perfeito que não existe desperdício, usa apenas o que existe localmente e toda gente tem trabalho!”
Esse olhar para a natureza em busca de soluções para os desafios do planeta é algo que diferencia muitas das empresas que estamos analisando. Sua organização já faz algo nesse sentido?
João Guilherme Brotto
Cofundador A Economia B
joao@aeconomiab.com
Se você tem interesse em tornar sua marca uma apoiadora desse estudo inédito que vai conectar o Sul e o Norte Global por meio de histórias de impacto no setor de alimentos e bebidas, me escreve (joao@aeconomiab.com).
Anteriormente, na Farol…
💡Farol #21 E se o mundo tivesse um único supercontinente, todo conectado?
💡Farol #20 O que o Capitão Planeta tem a ver com ciência comportamental?
Você sabia que…
… a prática de divulgar a pegada de carbono de cada produto na própria embalagem se chama rotulagem climática (ou rotulagem de carbono)?
Ou seja, é quando através do rótulo é possível saber a quantidade total de gases de efeito estufa que a produção daquele produto emite (direta ou indiretamente) em todo o seu ciclo de vida – desde a extração da matéria-prima até o descarte final.
Nesta reportagem, explicamos melhor esse conceito e revelamos a importância do cálculo da pegada de carbono na jornada em busca de operações carbono neutro. Vale a leitura.
Empresas que são forças para o bem
A Umiami é uma foodtech francesa que tem a missão de ajudar a resolver problemas ambientais e éticos associados à produção de carne, como o desmatamento, emissões de gases de efeito estufa (GEE) e sofrimento animal. Para isso, desenvolve produtos 100% veganos, utilizando uma lista reduzida de ingredientes.
Por meio de uma tecnologia própria de texturização de proteínas (que eles chamam de Umiamisation), a Umiami produz filés de frango e de peixe à base de plantas, imitando a textura e a aparência da carne animal.
Pensamentos que iluminam e ecoam
“As empresas de alimentos precisam tomar uma atitude. Elas precisam mudar e se reinventar para atuar de maneira menos prejudicial ao planeta. Para as marcas que estão nascendo agora, não tem como não se preocupar e já se posicionar de forma sustentável e responsável”
Giovanna Meneghel, CEO e cofundadora da Nude.
→ No fim desta semana vamos entrevistar Mariana Malufe Spignardi, diretora de sustentabilidade da Nude. Tem algo que você gostaria de perguntar? Escreve pra gente: natasha@aeconomiab.com
Deu n’A Economia B
🥬 5 foodtechs de impacto que estão revolucionando o setor de alimentos
Transformar os sistemas alimentares pode ajudar a resolver uma série de problemas sociais e ambientais mundialmente. Conheça foodtechs de 5 países que estão contribuindo para essa mudança e tornando o setor alimentício mais justo e regenerativo
🇺🇾 Jogue os dados e participe da revolução da energia eólica no Uruguai
Jogo de tabuleiro coloca os jogadores dentro da revolução de energia eólica que limpou a rede elétrica uruguaia
🇧🇷 Governo federal viaja pelo Brasil para discutir Plano Clima com a população
Por meio de plenárias regionais que serão realizadas em oito cidades brasileiras, governo pretende engajar a população na luta contra as mudanças climáticas. Plataforma Brasil Participativo aceita propostas para o Plano Clima até o fim de agosto
♻️ GRI e TNFD se unem para facilitar a elaboração de relatórios de sustentabilidade
Materiais desenvolvidos pela Global Reporting Initiative (GRI) e pela Taskforce on Nature-related Financial Disclosures (TNFD) ajudam empresas a reportar impactos na biodiversidade com maior transparência e precisão
👣 BNP Paribas oferece ferramenta de gestão de pegada de carbono a clientes corporativos
“Calculadora de carbono” disponível aos clientes empresariais do banco na Polônia oferece insights práticos e rastreamento detalhado da cadeia de suprimentos, aprimorando iniciativas de sustentabilidade
Vale a pena ler de novo
O que as empresas têm a ver com justiça social?
Em nossas pesquisas e análises sobre o avanço da Agenda 2030 no Brasil e no mundo, notamos que existe um obstáculo comum que impacta todos os problemas que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) se propõem a resolver. Estamos falando da desigualdade.
Fome, pobreza, falta de acesso a serviços básicos, falta de emprego decente, desrespeito aos direitos humanos, mudanças climáticas, discriminação e violência racial e de gênero. Todas essas questões (e outras mais) são geradas, impactadas e agravadas pela desigualdade social e econômica dentro das nações e entre os países.
Sistemas excludentes em diferentes esferas da sociedade fazem com que um grupo de pessoas seja desproporcionalmente prejudicado e impactado pelos principais problemas socioeconômicos globais.
Seja qual for a crise (econômica, de saúde, social), é certo que a parcela mais vulnerável da população será a mais atingida. Da mesma forma, a desigualdade em si vivenciada por esse grupo gera uma série de desafios sociais (desemprego, violência e mais exclusão).
Diversos fatores combinados dentro desse sistema criam um círculo vicioso em que a concentração de riqueza e os privilégios de uma minoria se perpetuam, dificultando ainda mais a mobilidade social e a redução das desigualdades.
É por isso que a Justiça Social é fundamental para o desenvolvimento sustentável. Essa é uma questão crucial para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa, onde todas as pessoas tenham acesso aos mesmos recursos e oportunidades.
Neste artigo, explicamos por que as empresas deveriam se preocupar com justiça social e apresentamos recomendações e boas práticas para marcas que querem se posicionar em questões sociais e ajudar a diminuir as desigualdades. Vale a leitura.
Farol Recomenda
[Reportagem] Olympic surfing controversy: Environmental concerns on island of Teahupo'o
Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 ficaram pra trás (#saudade), mas os debates sobre essas terem ou não sido as Olimpíadas mais sustentáveis da história estão longe de terminar…
O canal Al Jazeera produziu uma reportagem em Teahupo'o, no Tahiti, onde aconteceu a competição de surfe. De longe, a gente só vê a beleza do cenário. Ao assistir à matéria, fica sabendo, por exemplo, que a construção da torre de julgamento no meio do mar danificou o recife de corais – e pode ter prejudicado a formação de ondas também.
Vale assistir e refletir antes de engolir qualquer afirmação verde. A reportagem está em inglês, mas dá para acionar as legendas automáticas em português.
[Livro] Banzeiro òkòtó: uma viagem à Amazônia centro do mundo
Escrito por Eliane Brum, uma das jornalistas brasileiras mais relevantes da atualidade, Banzeiro òkòtó: uma viagem à Amazônia centro do mundo é um livro forte, profundo, questionador, elucidativo e revelador.
A obra escancara o colapso climático que a cada dia se agrava e deixa claro que sem mudanças radicais no sistema econômico e na forma como vivemos, as próximas décadas serão desafiadoras – para dizer o mínimo.
Já faz alguns anos que Eliane mora em Altamira (PA) porque, como conta no livro, “Altamira, o Xingu e a Amazônia me deram a compreensão de que não há casa para mim quando o planeta inteiro se retorce, partes dele em agonia. Nunca mais me senti em casa em lugar algum.”
A partir dessa premissa, ela fala sobre a ideia de ressignificar o que se entende por centro do mundo, e traz lições que aprendeu com (e sobre) os povos floresta.
[Entrevista] Um chamado da Amazônia, “centro do mundo”, para um empreendedor e contador de histórias
Quem também fez da Amazônia seu lar foi Miguel Pinheiro, empreendedor português que é fundador da Green-C, powerhouse criativa/boutique online baseada em uma comunidade remanescente de quilombo nas margens do Rio Tocantins, no Pará.
Na última edição do Web Summit Lisboa, o João o entrevistou. Na conversa, os dois não falaram muito sobre negócios, mas bastante sobre a Amazônia, a bioeconomia, o Brasil que não fala português e a sua inusitada jornada de vida.
Para seguir pensando
[via Repórter Brasil] Deputado ruralista do RS quer mostrar ‘farsa do aquecimento global’ na COP-30
[via CNN Brasil] Companhia aérea da Nova Zelândia desiste de suas metas de descarbonização para 2030
[via revista Pesquisa Fapesp] Aquecimento global aumentou em 40% seca e calor durante incêndios de junho no Pantanal
[via Época Negócios] O fim da festa ESG
[via EXAME] Empresas na Coreia do Sul reintroduzem trabalho aos sábados em resposta à crise econômica
[via The Guardian] Asma Khan: ‘Food is deeply political. Who eats and who doesn’t? Who owns the land?’
[via Fast Company] After the ESG backlash, what will the next wave of business sustainability developments bring?
[via Sustainability Magazine] Net Zero: How are World’s Biggest Companies Progressing?
[via The Washington Post] Does DEI training discriminate against White people? Courts will decide.
[via The New York Times] Germans Combat Climate Change From Their Balconies
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