Farol #23 – Ciclo sem fim: a revolução circular no setor de alimentos e bebidas
Bagaço de uva que vira sapato, cervejas feitas de restos de pão e cascas de nozes que viram adubo orgânico. Quando a economia circular faz parte dos processos dos sistemas alimentares, nada se perde
“Extrair, produzir, utilizar e descartar. Esse é o fluxo da economia linear. Nessa lógica, os recursos são extraídos para criar produtos que eventualmente acabam sendo jogados fora. Trata-se de um sistema poluente que degrada os sistemas naturais e impulsiona desafios globais, como mudanças climáticas e perda de biodiversidade.
Por outro lado, a economia circular busca redefinir o conceito de “fim de vida” dos produtos. Essa abordagem propõe que a vida útil dos materiais e produtos seja maximizada, mantendo os recursos em circulação ao invés de serem simplesmente descartados.”
O que você acabou de ler é um trecho do artigo que acabamos de publicar em A Economia B.
Nele, Francine Pereira, nossa redatora-chefe, fala sobre a importância da adoção dos princípios da economia circular no setor de alimentos e bebidas e apresenta cinco negócios que estão liderando essa transformação.
Esse, aliás, é um excelente ponto de partida para todos os debates que propomos nesta edição da Farol*.
Boa leitura!
Natasha Schiebel
Jornalista, Cofundadora e Head de Conteúdo A Economia B
natasha@aeconomiab.com
*Farol da Economia Regenerativa é a newsletter d’A Economia B
Cobertura internacional
Por João Guilherme Brotto, jornalista e cofundador A Economia B
Sandrine Dixson-Declève é copresidente do The Club of Rome, organização que reúne líderes em busca soluções holísticas para questões globais complexas e que tem o objetivo de promover iniciativas políticas e ações para permitir que a humanidade supere as múltiplas crises que vem enfrentando.
Ela é uma mulher de palavras fortes e críticas contundentes. Já tive a oportunidade de vê-la algumas vezes em palestras e painéis em coberturas. Sua franqueza traz um choque de realidade para espaços em que o greenwashing sempre aparece, ainda que disfarçado por um bom storytelling.
A última vez que a vi foi em Paris, no ChangeNOW, festival que se posiciona como “maior evento de soluções para o planeta do mundo”. Ela moderou um painel e apresentou uma palestra sobre o movimento Earth4All, que é liderado por ela. O vídeo (em inglês) está disponível na íntegra no YouTube do festival.
Após o painel e uma sessão de autógrafos do livro Earth4All, consegui entrevistá-la por pouco mais de cinco minutos, depois de negociar bastante com a assessora, que controlava rigidamente sua agenda e seus passos.
Além de perguntar sobre o Earth4All e seus cinco pilares, pedi para ela explicar o que chama de overdose de testosterona. Também falamos sobre a necessidade de reverter a visão colonialista que ainda impera nas relações entre Norte e Sul Global. Por fim, em um misto de ceticismo e otimismo, ela fala sobre a grande decisão que a humanidade tem que tomar.
Estou editando um vídeo especial para trazer a entrevista e mais informações sobre o Earth4All, mas compartilho em primeira mão um trecho dessa conversa:
Pensamentos que iluminam e ecoam
“A gente percebe que os consumidores não sabem o que é uma pegada de carbono. Eles não sabem, às vezes, que tudo que fazem emite um volume de gás efeito estufa. (...) Acho que nosso papel e responsabilidade, além de fornecer produtos de baixo impacto, de tentar minimizar ainda mais esse impacto, é ajudar nessa conscientização.”
Mariana Malufe Spada, diretora de sustentabilidade da Nude.
→ Esse é um pequeno spoiler da entrevista que o João Guilherme Brotto fez com a Mariana. 🙂 A gente avisa aqui quando o material completo for publicado.
Você sabia que…
Além disso, eles são a base de muitas comunidades costeiras, fornecendo às pessoas alimentos, proteção contra tempestades, medicamentos que salvam vidas e meios de subsistência a partir do turismo e da pesca. No total, mais de 1 bilhão de pessoas se beneficiam diretamente dos recifes de corais.
“Os recifes de corais são considerados as florestas tropicais do oceano e os armários de remédios do século XXI. No futuro, eles poderão representar uma fonte cada vez mais importante de medicamentos para várias doenças (incluindo câncer), suplementos nutricionais e outros produtos comerciais. Na verdade, a probabilidade de encontrar um novo medicamento no mar, especialmente entre espécies de recifes de corais, pode ser 300-400 vezes maior do que isolá-lo de um ecossistema terrestre.”
Relatório Vida embaixo d’água, UNEP
Em contrapartida, um relatório especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) publicado em 2018 projetou que os recifes de corais diminuiriam entre 70 e 90% se as temperaturas médias globais do ar aumentassem em 1,5°C acima dos valores pré-industriais. Esse número salta para uma diminuição de 99% com um aquecimento de 2°C. “Com o planeta já aquecendo aproximadamente 1,1°C devido às atividades humanas desde o final do século XIX, essas reduções nos corais poderiam ser alcançadas até 2050 ou antes”, avalia a NASA.
Empresas que são forças para o bem
Proteger (e regenerar) recifes de corais é uma das missões da Agua NEA.
Fundada em 2019, essa empresa espanhola vende água em lata (feita de material que pode ser reciclado infinitas vezes) com o objetivo de combater o uso de garrafas plásticas descartáveis, conscientizar seus consumidores sobre o impacto do lixo plástico nos oceanos e contribuir para a recuperação dos fundos marinhos por meio de atividades de regeneração e plantio de corais.
Até o momento, a empresa foi responsável por plantar 2155 corais. Mas o objetivo é atingir a marca de um milhão de corais plantados. Um deles pode inclusive ter o seu nome. Isso porque, com o objetivo de tornar a importância dos corais uma mensagem viral, a Agua NEA planta um coral no nome de cada cliente que tira uma foto com uma lata e a posta no Instagram.
“Eu acredito que as marcas, especialmente as marcas de grande consumo, têm um grande poder de comunicar mensagens. No final das contas, todos consumimos produtos, e esses produtos têm uma identidade que transmite os valores e o impacto que a marca gera. Acho que é isso que faz a diferença quando se trata de criar um mundo, uma sociedade muito mais resiliente ao câmbio climático e muito mais consciente na proteção do meio ambiente.”
Álex Dakov, CEO da Agua NEA, em entrevista a nossa equipe.
→ Essa é uma das histórias que contaremos em detalhes no Estudo B #7: Pangeia, onde boas ideias se encontram, em que apresentaremos mais de 100 iniciativas socioambientais realizadas por empresas do setor de alimentos e bebidas da América Latina (de onde viemos – e para onde sempre olhamos) e da Europa (onde parte do nosso time vive).
Queremos te ouvir!
Nas últimas semanas, analisamos mais de 300 empresas já inseridas em um contexto de impacto socioambiental em busca das melhores histórias que farão parte do Estudo.
O que mais chamou nossa atenção nesse processo foi constatar como muitas marcas, que deveriam estar engajadas nessas agendas, falham na comunicação de suas iniciativas de sustentabilidade e ESG. Há muito a falar a respeito, mas encontramos um padrão:
Algumas pecam pelo excesso em engrandecer o óbvio. Estamos chamando isso internamente de “parabéns, não fez mais que a obrigação”.
Há as que se resguardam em selos e certificações, mas são pouco transparentes.
E, pior, existem as que não comunicam absolutamente nada.
Além de jornalistas, nós atuamos como consultores e estrategistas de conteúdo para diferentes organizações. Temos tido um cuidado grande em observar como as narrativas em torno de mudanças climáticas vêm sendo construídas e em como as marcas estão se posicionando. Aliás, se quiser contratar nossa consultoria de comunicação de impacto, responde o e-mail que conversamos.
Essa investigação no setor de alimentos e bebidas nos trouxe muito aprendizado para compartilhar. Inclusive, estamos pensando em fazer uma live para contar algumas histórias.
Como é algo que nunca fizemos, não sabemos se teremos demanda. Portanto, criamos uma enquete para monitorar o interesse da audiência. Se você gosta da ideia de uma live d’A Economia B para compartilhar detalhes dessa apuração, escolhe um horário de sua preferência na enquete abaixo.
Se você não tiver interesse, não precisa responder. Sem mágoas, tá? A gente realmente quer saber se existe demanda!
Deu n’A Economia B
🧱 Startup etíope transforma lixo plástico em materiais de construção
A Kubik desenvolveu uma solução que não apenas ajuda a aumentar o índice de reciclagem de lixo plástico, como o transforma em matéria-prima para a construção de moradias acessíveis e que não são dependentes de cimento (material que é responsável por 8% das emissões globais de CO2). Os tijolos, as colunas e as vigas criados pela startup emitem cinco vezes menos dióxido de carbono que os tradicionais e são mais resistentes e baratos, facilitando a construção de moradias acessíveis
☕️ Café justo e regenerativo: 5 negócios de impacto para inspirar transformações no setor
As empresas que fazem parte do setor cafeeiro têm um papel crucial na transformação social e ambiental do mercado. Elas têm a responsabilidade de garantir práticas sustentáveis e justas, impulsionando mudanças necessárias no mercado e nas cadeias de valor. Além disso, podem ditar práticas de compra e garantir que os fornecedores adotem métodos sustentáveis e justos, ajudando a estabelecer padrões que beneficiem não apenas o meio ambiente, mas também os pequenos produtores e trabalhadores ao longo da cadeia
🇧🇷 1.641 municípios brasileiros têm risco alto ou muito alto para chuvas; o que cabe aos prefeitos? [via Agência Pública]
No dia 1º de janeiro de 2025, pelo menos 1.641 prefeitos no Brasil vão tomar posse em cidades que têm risco de impacto alto ou muito alto para desastres relacionados a chuvas, como deslizamentos de terra e/ou inundações, enxurradas e alagamentos. Elas representam quase 1 a cada 3 municípios do país e 50% da população. Entre essas cidades, 907 têm risco de impacto elevado para os dois tipos de desastres. É o caso de capitais como Rio de Janeiro, Salvador, São Luís, Natal, Maceió, Macapá e Manaus.
🌿 Apenas 5% das empresas avaliam seu impacto na natureza
Avaliar o impacto das operações na natureza é um desafio para organizações em todo o mundo. A World Benchmarking Alliance (WBA) avaliou mais de 800 empresas de mais de 20 indústrias (incluindo produtos domésticos, vestuário, mineração e alimentos) e descobriu que, embora algumas estejam contribuindo para a preservação da biodiversidade, a maioria ainda não compreende completamente como suas operações impactam a natureza – e dependem dela
Farol Recomenda
[Vídeo] Os pontos de inflexão das mudanças climáticas – e onde estamos
Johan Rockström é um cientista climático sueco conhecido por ser um dos criadores do conceito de limites planetários, que identifica as condições seguras dentro das quais a humanidade pode continuar a se desenvolver e prosperar por gerações futuras.
Os limites planetários são nove barreiras naturais para a civilização e cada uma delas tem três estágios:
Zona verde (ainda em equilíbrio)
Amarela (há sinais de alerta)
Vermelha (há sinais de colapso e podemos estar nos aproximando de um ponto sem volta).
Em seu mais recente TED Talk, Rockström apresentou as últimas descobertas da ciência do clima, falou sobre pontos de inflexão, contou por que está nervoso (mas ainda otimista) sobre o estado atual do planeta e explicou o que deve ser feito para preservar a resiliência da Terra diante da pressão humana.
Vale o play (em inglês, com legenda automática em português)
PS: Se você quer entender melhor os limites planetários e sua importância para o futuro da vida no planeta, recomendo assistir também:
Deixe o meio ambiente guiar nosso desenvolvimento | Johan Rockström
10 anos para transformar o futuro da humanidade — ou desestabilizar o planeta | Johan Rockström
Ambos têm legenda em português
[Reportagem] A biblioteca de emojis do seu telefone está incompleta. Veja o que está faltando
Li essa matéria (em inglês) do The Washington Post e vou confessar que senti inveja dos jornalistas que tocaram a pauta. 🙂 Que trabalho incrível – e importante.
A gente só cuida do que conhece, sabe nomear e entende a importância. Quando falamos em clima e no futuro do planeta, isso passa por entender que a emergência climática não afeta “apenas” a vida humana, mas também de animais, plantas e ecossistemas inteiros.
A matéria conta que quando pesquisadores analisaram a lista oficial de emojis relacionados à natureza reconhecida pelo Consórcio Unicode (a entidade global que padroniza os pictogramas), eles encontraram uma discrepância marcante entre as opções de emojis nos nossos telefones e a diversidade de vida na Terra.
“No total, existem mais de 110 plantas, animais e outras espécies distintas com emojis para escolher. Mas alguns organismos estão faltando. Sua ausência nos diz muito sobre como nós, humanos, vemos o mundo natural ao nosso redor”, diz a matéria, que é assinada por Hailey Haymond, Dino Grandoni, Kasha Patel e Emily Sabens.
Ter as ferramentas de comunicação adequadas à disposição ajuda biólogos a divulgar a mensagem sobre as espécies ameaçadas de extinção. Por isso, o The Washington Post decidiu criar oito emojis próprios para preencher lacunas.
Como uma curitibana acostumada a ver capivaras pelos parques da minha cidade, adorei a ideia de poder usar o maior roedor vivo da Terra (nativo da nossa América do Sul) como emoji.
Vale a leitura (em inglês).
Para seguir pensando…
[via oeco] A Faria Lima vai ao campo – Fontes de recursos privados para o agro superam em mais de duas vezes Plano Safra e ultrapassam R$ 1 trilhão, sem oferecer transparência ambiental
[via Newsletter Carlos Nobre] Influenciadores: aliados ou vilões do combate à crise climática?
[via LinkedIn] A Amazônia não é mercadoria: reflexões sobre atitudes perniciosas persistentes
[via Conquista Repórter] Bibliotecas comunitárias estimulam educação antirracista na primeira infância
[via Fantástico] Os detalhes exclusivos do caso do homem que virou 'dono' de parte da Floresta Amazônica e faturou R$ 800 milhões
[via ClimaInfo] Além de mudanças climáticas, combustíveis fósseis causam crise social
[via Fast Company] Vida longa aos conflitos
[via Harvard Business Review] Moving beyond ESG
[via Sustainability Magazine] Google Expands Wildfire Tracking to Adapt to Climate Change
[via Reuters] At Tahiti's Games site, Polynesians fight for a reef and a way of life
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