Farol #18 Inteligência Ancestral e um giro por Amsterdam e Madrid
Viajamos para cobrir eventos sobre liderança regenerativa e comunicação sem greenwashing. Voltamos com boas histórias pra contar e uma entrevista exclusiva com John Elkington
No último ano, a Inteligência Artificial se tornou um dos principais temas em pauta no mundo todo. Desde então, vantagens e desvantagens do uso da IA nas mais diversas áreas foram amplamente analisadas e debatidas. Sob diversos aspectos, o futuro claramente passa por esse avanço tecnológico.
Porém, dois encontros que tivemos com lideranças indígenas nesse mesmo período nos lembraram que existe uma outra IA igualmente importante em tempos de emergência climática e policrise socioambiental: a Inteligência Ancestral, aquela que povos originários do mundo todo dominam.
No palco do B For Good Leaders Summit, evento que aconteceu em Amsterdam na semana passada, Aunty Ivy, embaixadora cultural de Aotearoa, Nova Zelândia, falou um pouco sobre isso:
Este foi o segundo ano consecutivo que cobrimos este evento que reúne líderes globais engajados em pautas regenerativas. No ano passado, entrevistamos a brasileira Shirley Krenak, que pertence ao Povo Krenak, originário da Mata Atlântica, e nos aprofundamos nesse debate.
Convido você a ler a reportagem (aqui) e dar o play no vídeo abaixo.
Que a gente siga atento aos avanços da Inteligência Artificial, mas sem nos esquecermos de valorizar a Inteligência Ancestral que pode conectar passado e futuro de um jeito melhor para todos.
Natasha Schiebel
Diretora de Conteúdo A Economia B
PS: Se quiser fazer algum comentário, dar uma sugestão de pauta ou só trocar uma ideia, fique à vontade para me escrever – natasha@aeconomiab.com
*Farol é a newsletter semanal d’A Economia B.
Leia também:
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[Para inspirar] Empresas que são forças para o bem
A pressão regulatória que impulsiona a obrigatoriedade de relatórios ESG já cobre diversos mercados, e espera-se que mais atualizações sejam anunciadas em 2024.
Nesse contexto, apesar da inegável importância da Inteligência Ancestral para o avanço da economia regenerativa e para o futuro do planeta, a tecnologia e a Inteligência Artificial devem passar a integrar os processos de governança, facilitando o monitoramento e a divulgação do progresso das metas ESG.
No Estudo B #6 – Tendências ESG para 2024 e além, apresentamos algumas iniciativas interessantes nesse sentido.
A plataforma da EcoVadis utiliza IA para avaliar o desempenho ESG de fornecedores. Ela analisa informações de milhares de fontes para fornecer pontuações ESG, ajudando as empresas a selecionar parceiros comerciais mais sustentáveis.
Envizi, o software de relatórios ESG da IBM, oferece uma integração de produtos que facilita a captura e gestão de dados ESG. O sistema permite que as organizações façam relatos em conformidade com frameworks internacionais, consolidando informações em uma única plataforma de maneira facilmente exportável.
A RepRisk oferece soluções de monitoramento e análise de riscos ESG baseadas em IA. Ela analisa dados de uma ampla gama de fontes, em vários idiomas, para identificar riscos ESG associados a empresas e projetos específicos.
Pensamentos que iluminam e ecoam
“Falar sem agir é o erro de hoje. Agir sem falar é o erro de amanhã.”
John Elkington
[Cobertura internacional 🇳🇱]💡Spoiler da próxima edição da Farol
John Elkington é conhecido como o “pai” da sustentabilidade corporativa. Na semana passada, ele esteve em Amsterdam participando do B For Good Leaders Summit.
No primeiro dia do evento, o João Guilherme Brotto mandou no Slack do time d'A Economia B esta foto:
Pois é, ele não apenas viu Elkington no palco, como teve a oportunidade de entrevistá-lo.
Na a entrevista – que eu já tive o privilégio de assistir! –, Elkington falou sobre a crescente politização da agenda de sustentabilidade, abordou a tensão entre gerações e a necessidade de apoio governamental para trabalhadores em transição de mercados como de combustíveis fósseis para empregos verdes.
Além disso, ele ressaltou a importância da solidariedade global e intergeracional, especialmente diante do enfraquecimento das estruturas globais como a ONU, e enfatizou a urgência de envolver os jovens em ações práticas para desenvolver soluções sustentáveis. Por fim, Elkington disse que se considera um otimista cauteloso.
Para entender por que e assistir à entrevista na íntegra, não perca a próxima edição da Farol.
Farol Recomenda
[Livro] Tickling sharks: How We Sold Business on Sustainability
Assim que soube que o João tinha entrevistado John Elkington e que um dos tópicos da conversa tinha sido o livro que ele lançou em abril, fui buscar mais informações sobre a obra.
Tickling sharks (que ainda não foi traduzido para português) é um livro de memórias em que Elkington conta como conseguiu ‘fazer cócegas’ nos tubarões humanos do mundo corporativo, incentivando-os a abraçar formas antes impensáveis de abordar novas prioridades sociais, econômicas, ambientais e de governança.
A descrição oficial do livro diz: “Escrito com uma voz conhecedora, reflexiva e bem-humorada, este depoimento explica – e critica – o progresso até hoje antes de esboçar um manifesto para aqueles determinados a tornar a economia global mais responsável, mais resiliente e, crucialmente, mais regenerativa”.
Já baixei a versão digital e comecei a ler. 🙂
[Cobertura Internacional 🇪🇸] Como fugir do greenwashing sem cair no greenhushing
Estima-se que, atualmente, cerca de 75% dos produtos no mercado da União Europeia carreguem alguma forma de alegação verde, implícita ou explícita.
No entanto, mais da metade dessas alegações são vagas, enganosas ou infundadas, e quase metade dos 230 rótulos ecológicos disponíveis na UE tem procedimentos de verificação fracos ou inexistentes.
Nesse contexto, comunicar iniciativas socioambientais sérias pode ser desafiador. Tanto que há muitas empresas que optam pelo caminho do greenhushing (ou seja, deixam de contar o que fazem) para ter certeza de que não estão cometendo greenwashing.
Mas esse definitivamente não é o melhor caminho.
Na semana passada, estive em Madrid para acompanhar um debate sobre comunicação sustentável organizado pela agência Apple Tree (que é uma empresa B certificada).
Ao fim do evento, perguntei a Belén Viloria, diretora executiva do B Lab Spain, o que, na visão dela, todo mundo deveria saber sobre comunicação sustentável. A resposta está no vídeo abaixo:
Mediado pela jornalista Mercedes Martín, o painel contou com a participação dos seguintes especialistas:
José Armando Tellado Nogueira, CEO da CAPSA FOOD
Nieves Rey Hernández, Diretora de comunicação e marketing da ecoembes
Silvia Bajo, Diretora da Asociación Española de Anunciantes
Jaime Lobera, Chief Strategy Officer na Apple Tree
Neste artigo, destaco algumas das reflexões proporcionadas por eles (e por Carme Miró, CEO da Apple Tree que abriu o evento) que ajudam a pensar sobre caminhos para a comunicação sustentável.
Como disse Carme, “a sustentabilidade permeia os grandes desafios do século XXI, e a comunicação é fundamental para avançar nela”.
→ Precisa de ajuda para comunicar os esforços socioambientais da sua organização de forma honesta, com rigor, autenticidade e coragem? Entre em contato comigo: natasha@aeconomiab.com.
Você sabia que…
… segundo um estudo global feito pelo INSEAD, a mudança do clima já tem uma presença sólida na pauta dos conselhos administrativos?
75% dos conselheiros entrevistados afirmam que as mudanças climáticas são muito ou totalmente importantes para o sucesso estratégico de suas empresas.
62% estão confiantes de que sua empresa alcançará seus objetivos relacionados às mudanças climáticas.
No entanto, ao mesmo tempo, há poucas medidas específicas sendo tomadas pelos conselhos em relação ao tema.
43% dos entrevistados afirmam que suas empresas ainda não têm metas claras para reduzir as emissões de carbono (ou não têm conhecimento sobre essas metas).
Apenas 16% dizem que seus negócios têm metas para as emissões de carbono para além de seu próprio controle (ou seja, incluindo as emissões do escopo 3).
Deu n’A Economia B
💡 O papel dos conselhos no avanço da agenda climática nas empresas
Focar apenas no retorno financeiro, sem levar em conta os impactos climáticos e ambientais, pode ser considerado uma negligência por parte dos conselhos. É isso que apontam Jandaraci Araujo, cofundadora do Conselheiras 101, e Gabriela Blanchet, coordenadora e embaixadora da Chapter Zero Brazil, especialistas com quem conversamos para produzir uma reportagem que revela por que os conselhos de administração são essenciais para integrar a agenda climática nas estratégias corporativas
🇧🇷 Um terço das cidades brasileiras tem alto risco para desastres causados por chuvas
Levantamento do governo federal revela que 73% da população brasileira vive nos 1.942 municípios mais suscetíveis a desastres causados por chuva
🔄 IKEA promove mercados de pulgas em estacionamentos de lojas na Europa
O objetivo da empresa sueca de móveis IKEA é se tornar um negócio circular até 2030. Além disso, a marca quer “carregar” seus clientes junto. Entre abril e junho deste ano, estacionamentos de várias lojas da rede se transformarão em mercados de pulgas cujos vendedores serão os clientes membros do programa IKEA Family.
A Economia B por aí 🇪🇸
Na quarta-feira (29), João e eu cobrimos aqui em Valência o encontro “Jovens Empresas com Impacto Social”, organizado pela Comunidad B Valenciana, em parceria com a YMCA España e a Asociación de Jóvenes Empresarios/as de Valencia.
O evento reuniu profissionais de diversas empresas para falar sobre seus desafios e compartilhar soluções, reflexões e iniciativas. Contaremos algumas delas em detalhes nas próximas edições da Farol.
Farol Recomenda
[Chatbot climático] NOA
No início desta semana, o Instituto Talanoa lançou a NOA, uma inteligência artificial desenhada para conversar sobre política climática brasileira.
A partir de uma base de dados composta por mais de 250 documentos publicados pela equipe Talanoa, a NOA responde sobre temas diversos – de como está a regulação do mercado de carbono ao conceito do que é adaptação.
[Podcast] Que dia cai o fim do mundo? Carlos Nobre responde
Nos últimos dias, ouvi dois episódios de podcasts que contaram com a participação de Carlos Nobre, uma das principais autoridades mundiais em mudanças climáticas.
No Trip FM, o professor Nobre (que liderou pesquisas no INPE e contribuiu para o relatório do IPCC) fala sobre os desafios e a urgência de enfrentar as mudanças climáticas.
Ele compartilha sua frustração com a falta de ação global apesar de décadas de alertas científicos, explica quais são os pontos de não retorno – como o desaparecimento da floresta amazônica e dos recifes de corais – e conta quais são os riscos do metano armazenado nos oceanos.
Além disso, Nobre também aborda a relação entre pandemias e fenômenos climáticos e a viabilidade de novas tecnologias para mitigar os efeitos do aquecimento global.
[Podcast] Tragédia Climática no RS: o que aconteceu e como reconstruir o estado?
No 2 Pontos, do Estadão, o tema foi a tragédia climática no Rio Grande do Sul, considerada o maior desastre ambiental da história do estado.
Além de Carlos Nobre, também participou do programa a presidente do Instituto Talanoa e mestre em políticas públicas pela Universidade de Harvard, Natalie Unterstell.
Os dois enfatizaram a importância de ações preventivas e de adaptação, destacando que o Brasil está atrasado na implementação dessas medidas, discutiram a resistência das pessoas em deixar áreas de risco e a necessidade de intervenções públicas eficazes, além de citar exemplos internacionais bem-sucedidos, como Cuba.
Vale o play – no YouTube ou nas principais plataformas de áudio.
[Vídeo] Por que a biodiversidade é importante?
Como o título diz, este vídeo curtinho – e superbonito – fala sobre por que a biodiversidade é tão importante para a humanidade, como a perda de diversidade está impactando o mundo e como ainda há tempo de mudar o rumo da história, se agirmos agora.
Para seguir pensando…
[via Época Negócios] Falando alto, fazendo pouco, por Fabio Alperowitch
[via ((o))eco] Código Florestal como peça fundamental para enfrentamento da crise climática
[via Valor Econômico] Governo corre para preparar cidades contra crise climática
[via UOL] O pior negacionismo
[via Climática] Janette Sadik-Khan o cómo la revolución será peatonal (y ciclista) o no será
A publicação de notícias sobre empresas não representa endosso às marcas citadas. Nossa tarefa é reportar iniciativas e fatos que podem de alguma forma inspirar melhorias no seu negócio, na sua carreira ou no seu dia a dia.
A Farol da Economia Regenerativa condena práticas como greenwashing, socialwashing, diversitywashing e wellbeing washing. As informações compartilhadas aqui passam por um processo de checagem feito pelo nosso time de jornalistas, porém, sabemos que muitas vezes à primeira vista pode não ser fácil distinguir iniciativas legítimas de tentativas de greenwashing, por exemplo. Caso você acredite que algo não deveria estar aqui, fique à vontade para nos procurar.